"O
medo contem utilidades para a sobrevivência, contudo, a covardia de enfrentar as
coisas não. A coragem é o bater contra o medo, a resistência a ele, não a
ausência do mesmo.
Não temer que você seja um monstro é um dos
passos da auto aceitação. Somos todos diferentes, nascidos para que, juntos,
cresçamos para o bem maior".
Fobos
É
instinto para a sobrevivência, amargo e indesejado pelos humanos. É o acelerar
de pulso e o dilatar de íris. Tudo isso se encaixa em uma única palavra.
Sinto-me
deitado a escutar tenuamente alguns pássaros a cantar. Em meu sentido olfativo
a percepção de aromas de madeira e folhas secas.
Eu
tento abrir os olhos, mas não consigo. Finalmente, depois de alguns minutos,
consegui alcançar o meu desejo. Deparo-me com altas árvores a apontar ao céu.
Os pássaros cessam sua cantoria. Como eu poderia estar aqui?
Levanto-me
com um pouco de dificuldade como se estivesse a acordar de um sono longo e
pesado. Fitei o horizonte escuro repleto de árvores e uma névoa paralisada. Meu
coração começou a bater rápido e um aperto tomou conta do mesmo. A ter a
sensação de alguma coisa por vir comecei a caminhar.
A
lua delgada com um sorriso maligno estampava ao céu as nuvens.
Sinto
em minhas costas uma presença. Viro bruscamente. Nada. Apenas o escuro e a
névoa. Contudo, ouço um quebrar de galho. Fico assustado. Enjoado. Giro sobre
meus calcanhares e observo, ao longe, uma silhueta. Aquela criatura obscura
fazia brotar em meu interior o anseio de se distanciar. Meus pelos eriçaram na
epiderme, dei um passo recusante. Um calafrio tomou conta da minha nuca e
pernas. Corri, com máxima velocidade que conseguia, em direção contrária da
figura.
Sentia
os músculos das minhas pernas doerem. Pulei sobre troncos caídos já em
decomposição. Atrapalhei-me ao passar entre as teias de aranhas. As árvores
passam em minha visão como vultos de fantasmas rápidos.
A
presença continuava, fortemente, em minhas costas a me perseguir. Prosseguia em
minha fuga entre as árvores. Meu coração a bater no limite. O enjoo a me
consumir e a angustia a cerrar seus punhos sobre o meu pescoço.
Tropeço
em uma árvore jovem e minha face pousa, indelicadamente, ao solo. Pensei em
enfrentar o ser que me perseguia. Será que o venceria?
Levantei-me,
e encarei o ser a se aproximar retumbante. Minha mente virara engrenagens
quebradas e meus membros se puseram a me desobedecer. O meu instinto
prevaleceu. Retomei a fugir como uma presa de um caçador. Sentia a presença
cada vez mais perto, quase a sussurrar palavras geladas em minha nuca.
A
densidade da floresta diminui. Entra em minha visão a base de um morro sem
árvores. Ouço os passos a me perseguir acelerar. Em segundos, mas uma
eternidade em minha percepção, alcanço o morro revestido de grama. Com
dificuldades respiratórias elevo-me até metade da colina. Espero a fitar o
escuro entre as árvores. Aquilo desistiu de me perseguir? Não. A sombra
ambulante lentamente avança fora da floresta. E se eu o enfrentasse agora?
Desisti a observar que a silhueta parecia estar maior e mais forte.
Percorro
o restante do monte até o topo. Avisto uma cabana velha e pequena. Aperto os
meus passos. Eu estava ofegante, o esforço foi em demasia para subir o outeiro.
Alcanço minhas mãos à maçaneta da porta. Escancaro-a e rapidamente fecho-a.
Agora eu tenho um refúgio contra aquilo. Encolho-me em um canto escuro a rezar
que o ser não me encontrasse. Sentado na madeira, envolvo minhas pernas com
meus braços.
Pelas
frestas da parede de tábuas testemunho a sombra frente à porta. A mesma começa
a abrir lentamente a ranger.
Soa
o primeiro passo a adentrar. Meus olhos arregalados deixam meu cérebro pensar
no pior. Eu estaria morto?
Toda
a silhueta estava a bloquear o brilho da lua. A mão daquilo vai até a sua
própria cabeça. A sombra retira o seu capuz e revela-se ser humano. Um ser com
a minha aparência e fisionomia.
Se
eu enfrentasse aquilo logo no início, descobriria que seria meu próprio eu. Não
tinha a necessidade de todo o esforço para correr daquilo. Eu me temia. Porque
não me venceria? Estou aqui, pois esta é a minha mente e os meus medos.
O
medo contem utilidades para a sobrevivência, contudo, a covardia de enfrentar as
coisas não. A coragem é o bater contra o medo, a resistência a ele, não a
ausência do mesmo.
Não
temer que você seja um monstro é um dos passos da auto aceitação. Somos todos
diferentes, nascidos para que, juntos, cresçamos para o bem maior. O triste ato
de correr de si mesmo e se diminuir em um escuro. Deixa o seu medo ainda maior
e mais forte sobre você. Cabe a nós, o enfrentar.
Abraços de Urso de ~~L.M.~~
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