25 de fevereiro de 2014

Fobos - Por Lucas Monteiro

"O medo contem utilidades para a sobrevivência, contudo, a covardia de enfrentar as coisas não. A coragem é o bater contra o medo, a resistência a ele, não a ausência do mesmo.
Não temer que você seja um monstro é um dos passos da auto aceitação. Somos todos diferentes, nascidos para que, juntos, cresçamos para o bem maior". 



Fobos

É instinto para a sobrevivência, amargo e indesejado pelos humanos. É o acelerar de pulso e o dilatar de íris. Tudo isso se encaixa em uma única palavra.
Sinto-me deitado a escutar tenuamente alguns pássaros a cantar. Em meu sentido olfativo a percepção de aromas de madeira e folhas secas.
Eu tento abrir os olhos, mas não consigo. Finalmente, depois de alguns minutos, consegui alcançar o meu desejo. Deparo-me com altas árvores a apontar ao céu. Os pássaros cessam sua cantoria. Como eu poderia estar aqui?
Levanto-me com um pouco de dificuldade como se estivesse a acordar de um sono longo e pesado. Fitei o horizonte escuro repleto de árvores e uma névoa paralisada. Meu coração começou a bater rápido e um aperto tomou conta do mesmo. A ter a sensação de alguma coisa por vir comecei a caminhar.
A lua delgada com um sorriso maligno estampava ao céu as nuvens.
Sinto em minhas costas uma presença. Viro bruscamente. Nada. Apenas o escuro e a névoa. Contudo, ouço um quebrar de galho. Fico assustado. Enjoado. Giro sobre meus calcanhares e observo, ao longe, uma silhueta. Aquela criatura obscura fazia brotar em meu interior o anseio de se distanciar. Meus pelos eriçaram na epiderme, dei um passo recusante. Um calafrio tomou conta da minha nuca e pernas. Corri, com máxima velocidade que conseguia, em direção contrária da figura.
Sentia os músculos das minhas pernas doerem. Pulei sobre troncos caídos já em decomposição. Atrapalhei-me ao passar entre as teias de aranhas. As árvores passam em minha visão como vultos de fantasmas rápidos.
A presença continuava, fortemente, em minhas costas a me perseguir. Prosseguia em minha fuga entre as árvores. Meu coração a bater no limite. O enjoo a me consumir e a angustia a cerrar seus punhos sobre o meu pescoço.
Tropeço em uma árvore jovem e minha face pousa, indelicadamente, ao solo. Pensei em enfrentar o ser que me perseguia. Será que o venceria?
Levantei-me, e encarei o ser a se aproximar retumbante. Minha mente virara engrenagens quebradas e meus membros se puseram a me desobedecer. O meu instinto prevaleceu. Retomei a fugir como uma presa de um caçador. Sentia a presença cada vez mais perto, quase a sussurrar palavras geladas em minha nuca.
A densidade da floresta diminui. Entra em minha visão a base de um morro sem árvores. Ouço os passos a me perseguir acelerar. Em segundos, mas uma eternidade em minha percepção, alcanço o morro revestido de grama. Com dificuldades respiratórias elevo-me até metade da colina. Espero a fitar o escuro entre as árvores. Aquilo desistiu de me perseguir? Não. A sombra ambulante lentamente avança fora da floresta. E se eu o enfrentasse agora? Desisti a observar que a silhueta parecia estar maior e mais forte.
Percorro o restante do monte até o topo. Avisto uma cabana velha e pequena. Aperto os meus passos. Eu estava ofegante, o esforço foi em demasia para subir o outeiro. Alcanço minhas mãos à maçaneta da porta. Escancaro-a e rapidamente fecho-a. Agora eu tenho um refúgio contra aquilo. Encolho-me em um canto escuro a rezar que o ser não me encontrasse. Sentado na madeira, envolvo minhas pernas com meus braços.
Pelas frestas da parede de tábuas testemunho a sombra frente à porta. A mesma começa a abrir lentamente a ranger.
Soa o primeiro passo a adentrar. Meus olhos arregalados deixam meu cérebro pensar no pior. Eu estaria morto?
Toda a silhueta estava a bloquear o brilho da lua. A mão daquilo vai até a sua própria cabeça. A sombra retira o seu capuz e revela-se ser humano. Um ser com a minha aparência e fisionomia.
Se eu enfrentasse aquilo logo no início, descobriria que seria meu próprio eu. Não tinha a necessidade de todo o esforço para correr daquilo. Eu me temia. Porque não me venceria? Estou aqui, pois esta é a minha mente e os meus medos.
O medo contem utilidades para a sobrevivência, contudo, a covardia de enfrentar as coisas não. A coragem é o bater contra o medo, a resistência a ele, não a ausência do mesmo.
Não temer que você seja um monstro é um dos passos da auto aceitação. Somos todos diferentes, nascidos para que, juntos, cresçamos para o bem maior. O triste ato de correr de si mesmo e se diminuir em um escuro. Deixa o seu medo ainda maior e mais forte sobre você. Cabe a nós, o enfrentar.


Abraços de Urso de ~~L.M.~~

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