Olá Galera! Estou aqui para publicar uma estória um pouco mais antiga do que Os Letraks, ela é bem emocionante e não é muito longa. O Sé7imo Exemplar tem três capítulos e 14 páginas ao total, abaixo segue a sinopse:
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Sinopse
“Momentos bons e ruins fazem parte da vida. A diferença é
que um marca e outro ensina”.
A chuva pode cair, as folhas farfalhar, o vento assoprar em
nossos ouvidos, o sol irradiar, os passos soar, a música tocar, tudo pode
acontecer, em qualquer momento, desde coisas ruins que nos prejudicam e depois
nos edificam, mas também as belas e felizes coisas que vivenciamos com nossos
amigos, parentes, professores ou até mesmo com nosso chefe.
Tudo pode dar errado no fim, pois a vida não é uma história
de contos de fadas, portanto, podemos tomar atitudes e mudar esse fim, podemos
ajudar ao mundo, para que o mesmo seja melhor.
Posso ser um simples garoto chamado David, mas eu sei que
estou sendo protegido, por um ser que jamais esquecerei!
“Momentos bons e ruins fazem parte da
vida. A diferença é que um marca e outro ensina”.
Cap.
I - Folhas de Outono
D
|
avid
Louis Gaspar, sim este é o meu nome completo, tenho 15 anos e estudo no colégio
Morgana Dalatrusti, estou no primeiro grau, e digamos que sou rotulado como o
nerd da minha sala.
Rotulo
intensificado pela minha aparência, pois uso um óculos com lentes pequenas e
quadradas, sem armação ao redor do vidro. Minha mãe sempre disse que meus olhos
azuis claros eram os do meu pai, assim como o meu cabelo liso e negro. Naquela
época usava um penteado desarrumado, uma franja que ia até os cílios. Pele
clara e não era muito alto.
Tudo começa no dia
23 de Setembro, numa segunda-feira, saí de minha casa rumo ao colégio e alguns
passos, quando estava passando sub uma árvore de folhas estreladas amareladas e
avermelhadas, um forte vento sopra em todo o meu corpo fazendo com que as
folhas farfalhassem e se desprendessem com fácil esforço, uma rajada de folhas
e vento me atinge.
Atrapalho-me
cuspindo uma folha em minha boca e acabo tropeçando na calçada, mas no último
instante consigo readquirir o equilíbrio. Respiro aliviado, e prossigo o meu
trajeto.
Cheguei ao
colégio subindo as escadas até o saguão central, vou ao segundo andar e pego a
direção de minha sala, assim como é a minha rotina, sento em minha carteira do
lado esquerdo da sala. Sempre sou uns dos primeiros a chegar; ficava esperando
o restante vendo pela janela o pátio, as pessoas, as árvores, os pássaros...
– Bom dia,
alunos! – comprimento a professora de história com um sorriso. Ela era jovem,
se comparar com o restante das professoras. – Vamos começar hoje com um aluno
novo!
Murmurinhos
começaram ao fim da sala.
– Menos barulho!
– pronunciou a professora colocando um livro em cima de sua mesa de madeira.
Ela gesticula em direção à porta. – Entre Vitor.
Um garoto entra
na sala; de cabelos mais claros que a cor de trigo e olhos mais verdes que
esmeraldas. Seu corpo era um pouco alto, se comparado a mim, e magro. Segurava
sua mochila preta na mão direita e com a esquerda dava os toques finais em sua
camisa branca. As meninas sorriram vislumbrando a beleza do novo “concorrente”
dos meninos populares, pois certamente adicionariam o rotulo de popular nele,
caso ele fosse social.
– Olá, meu nome
é Vitor Raphael, morava em Montes Belos, muito prazer!
As meninas mais
populares trocavam olhares e sorrisos enquanto os garotos reviravam os olhos
por desdém.
– Ótimo –
concluiu a professora – pode se sentar agora, Vitor.
Eu abaixo o meu
olhar para meu caderno já em cima da mesa e ouço o roçagar dos outros pegando
seus materiais, e em adicional, os passos do novo aluno, rumo ao lado esquerdo
da sala. Uma carteira atrás de mim… sim… ele sentara nesta onde havia um lugar
vago. Fiquei com a respiração acelerada e resolvi pegar um lápis para me
distrair.
– Vamos dar
continuação aos exercícios 22 e 23 da página 50, turma.
Vários minutos
passam, e a aula de história chega ao fim, o sinal toca avisando que era hora
do intervalo e todos começam a se levantarem para irem ao saguão ou ao pátio
comerem seus lanches trazidos de casa.
Sinto alguém
mexendo suavemente, por alguns instantes, em meu capuz e olho sobre meus ombros.
– Outono, gosto
desta estação! – exclamou Vitor, a segurar uma folha amarela estrelada, estava
a gira-la entre o polegar e o indicador. Provavelmente se alojou em meu capuz
mais sedo, na ventania com aquelas folhas. – Isso estava em seu capuz!
– Ah, – sorri
sem jeito – o… obrigado!
O garoto em
minhas costas se levanta, e passa ao meu lado com uma das mãos no bolso e com a
outra joga a folha sobre meu caderno. Eu, com o olhar baixo, apenas vi com o
canto do olho, ele sair da sala. Pensativo, fecho o caderno com a folha ao
meio. Então ele gostava do outono? Bem… eu também.
Pego uma maçã
verde em minha mochila, me levanto e ajudo a professora com seus materiais até
na sala dos professores, já era no caminho do pátio, então, eu sempre a
ajudara.
Quando acabo de
ajuda-la vou ao pátio; temperatura por volta dos 20º graus Celsius, mas uma
brisa mais fresca percorria por todo o lugar e não poderiam faltar, as folhas
amarelas sendo arrastadas. O céu, por sua vez, começava a ficar mais escuro e
pesado. Antes ele estava tão claro, agora temia que chovesse, e por azar, nem
trouxera guarda-chuva.
– Ei, quatro
olhos! – chamou em minhas costas, uma voz com tom de brincadeira.
Olho, e vejo
Michelly sorrindo, vindo ao meu encontro. Ela era uma das únicas a ser tão
querida, contudo estudava na outra classe do 1º grau.
– Bom dia, David.
– parou ofegante em minha frente.
– Bom dia, mas o
que aconteceu?
– Aula de
Educação Física, – disse enquanto arrumava os cabelos ruivos e cacheados – mas
só lhe digo uma coisa: não suporto mais aquelas meninas metidas à riquinha da
minha sala!
– O que elas
fizeram dessa vez? – perguntei acompanhando-a pelo corredor.
– Aquela
retardada da Melissa, quase me fez cair de boca na quadra de basquete. – ela
coloca uma de suas mãos em meu ombro – Mas e com você?
– Ah – olhei
para o piso do pátio – estou bem, só tirando o fato de o inverno estar
chegando. Não gosto desse clima.
Ela anui com a
cabeça a colocar as mãos em sua cintura. Viramos rumo aos balanços e a caixa de
areia onde as crianças menores se divertiam.
– Fiquei sabendo
que o 1ºA tem um novo aluno!
Concordei com a
cabeça.
– Se não me
engano, se chama Vitor. E é alto.
– E a Clara? Deu
suas aulas chatas para vocês novamente?
– Ah, não acho
chatas. Chatas para você, só porque odeia história, certo?
Ela riu enquanto
sentávamos em um banco de concreto para lancharmos.
– Vai à
biblioteca depois, Michelly? – perguntei antes de dar uma mordida na minha
maçã.
– Humm… hoje
não, tenho que voltar um pouco antes para começar uns exercícios que era para
fazer em casa; acabei não fazendo.
Ergui as
sobrancelhas e depois anui.
– Vou devolver
este livro. – mostrei-o a ela e depois coloquei novamente debaixo do meu braço.
– E o Jofrey? –
perguntou ela com brilho nos olhos – Está em suspenção?
– Sim, graças a
Deus – dei uma gargalhada – Por uma semana estarei livre dele aqui no colégio,
semana passada ele não parava de incomodar as minhas costas.
– Você tem muita
sorte do Jofrey sentar uma carteira atrás da sua! – exclamou ela irônica.
– Nem me diga,
mas estou crente que o Vitor vai começar a sentar atrás de mim.
– Por quê? – ela
ergue uma sobrancelha curiosa.
– Hoje foi o
primeiro dia dele, e sentou na carteira de Jofrey.
– Vamos ver isso
semana que vem. – disse ela passando a mão na boca suja de bolachas que acabara
de devorar. – Tudo bem, agora tenho que ir, antes que a aquela Melissa passe em
minha frente.
– Só não bata
nela! – brinquei vendo ela se distanciar.
Eu me direcionei
a biblioteca e Michelly à sua sala. Entrando na sala com as paredes cobertas de
livros e sorri para a bibliotecária, ela era uma senhora baixinha, um pouco
tanto rabugenta, mas era só ser querido com ela que conquistava o seu coração,
assim como indicações de bons livros.
– Bom dia, Dona
Carmélia!
– Bom dia,
David!
– Gostaria de
devolver este livro hoje! – exclamei tirando-o de baixo do meu braço.
– Gostou da
leitura? – ela perguntou arrumando os óculos para ver o nome do livro.
Balancei a
cabeça confirmando a minha satisfação. Depois de alguns segundos ela anui e
prossigo para entre as estantes. Congelo, e olho para o chão instantaneamente.
A presença dele a alguns passos era forte, eu suava frio, droga, porque eu sou
assim? Fico nervoso com pessoas que não conheço, não sou social e não sei muito
me comunicar, ainda mais com pessoas de minha idade.
Vitor estava ali
na prateleira de história, certamente buscando o livro que a professora pedisse
que olhasse para fazer um trabalho: o mesmo livro que eu estava procurando.
Cheguei ao seu
lado buscando com os olhos cerrados, o número do livro: 307.0. Ele passava os
dedos gentilmente nas lombadas dos livros em sua frente, fazendo o mesmo que
eu: buscando o número. Vitor nem me notara, até que ele olha ao lado esquerdo e
do alto, me avista.
– Ah, é você! –
disse ele sorrindo e me olhando nos olhos.
Eu também sorri,
porém continuava a olhar os números e rapidamente meu coração acelera. Isso era
estranho, o fato do meu coração se acelerar, eu me sentia incomodado ao lado
dele, reprimido, eu sentia isso na maior parte das vezes com alguém novo, mas
com ele era diferente.
– Sou novo por
aqui, então, poderia me ajudar a achar o livro que a professora de história
pediu?
Anui com a
cabeça e não ousava olhá-lo. Acho que ele estava pensando que eu não fui com a “cara”
dele, por não ter respondido, mas não saiu nada dos meus lábios, não consegui.
Com o olhar afiado,
vi-o conferindo as lombadas mais do alto e eu era um tanto baixo se comparado
com ele. Olhei para as lombadas que ele as fitava e achei o que ambos
queríamos.
– Ahn… – gemi
sem conseguir olhá-lo.
– O que foi? –
perguntou ele com as mãos no bolso.
– Achei! –
apontei a parte da prateleira mais alta.
Como ele não
tinha visto? Estava na frente dele o tempo todo. Vitor da um passo para trás e
eu tento alcançar com um esforço os livros, fico me equilibrando com a ponta
dos pés e os dedos das mãos esticados o máximo, mas apenas encostava-os na lombada,
sem sucesso, soltei um suspiro. Uma mão clara aparece em minha vista, pega um
livro de capa vermelha acima de mim, o livro que tentava, sem sucesso, pegar.
Viro sobre os
calcanhares e Vitor estende o livro a mim.
– Aqui. É esse?
Sinto minhas
bochechas pegarem fogo, e apenas confirmo com a cabeça.
– Vai fazer com
quem o trabalho? – perguntou ele passando a mão em seus cabelos loiros e lisos
com movimento.
A professora
Clara pedira para fazer um trabalho em um trio para entregar na sexta-feira. Eu
geralmente fazia sozinho, esses trabalhos em grupos, pelo menos o concluía bem
feito e conseguia, na maioria das vezes, uma nota elevada.
– Geralmente
faço sozinho.
– Ah. – Ele iria
falar mais alguma coisa, mas resolver não falar e olhou para a capa vermelha do
livro que ainda me estendia.
Peguei-o livro e
abracei-o no peito.
– História! –
exclamou ele.
– Ah?
– É!… Os homens
morrem, as civilizações acabam… e os livros sobrevivem. – ele sorri para mim e
olha para a prateleira alta para apanhar outra obra.
Olhei para o
chão e estava me retirando, abraçado forte ao livro, cheirando-o.
– Ah, droga! – disse
Vitor decepcionado atrás de mim.
Virei-me
novamente em direção a ele.
– Algum
problema?
– Acabou, se eu
estivesse vindo antes!
Como assim,
acabaram os exemplares? A professora disse que tinha 12 cópias deste livro.
– Ah… bem… se
não tem mais… não daria para você fazer comigo o trabalho? – perguntei todo
desajeitado, olhando no chão e movimentando meu calcanhar direito para ambos os
lados.
Ele sorriu e se
aproximou estendendo sua mão rumo a minha cabeça. Pousou-a e fez um cafune
gentil. Acho que isso foi um “sim”!
– Vamos! –
exclamou ele dando passos em minha frente e olhando sobre os ombros para mim.
O sétimo exemplar!
– falou a bibliotecária a sorrir quando coloquei o livro sobre a mesa para
emprestá-lo. – O último a sair da biblioteca. Não sei o que os alunos desta
cidade têm com o número sete!
– Por quê? –
perguntou Vitor apoiando-se sobre a mesa com os cotovelos.
– Geralmente são
os sétimos exemplares que são emprestados por último.
– Superstição! –
respondi – nessa cidade o número sete é considerado o último de todas as
atividades, chega a ser até um exagero, uma cultura dos fundadores da cidade
que se enraizou.
– Estranho! Este
é meu número favorito! – falou Vitor olhando para o grande relógio antigo de
parede acima da cabeça da Dona Carmélia.
– Aqui está! –
disse ela, empurrando na mesa, o livro até minhas mãos.
Agradecemos e
nos retiramos. Voltamos até a sala, pois estava a alguns minutos de soar o
sinal para o retorno às salas de aula. Matemática no quadro e no caderno até o
último soar de sinal. Para alguns apenas no quadro, mas realmente, neste dia,
eu estava impaciente, querendo sair correndo para casa, o estranho deste dia é
que eu não consigo decifrar o que realmente eu sinto: se é alegria, tristeza,
ou seja, estou bem confuso.
O sinal toca aos
quatro cantos e todos saem apressados. Ao voltar para casa, fiquei parado
alguns segundos olhando a árvore que passara de manhã. Lembrei-me da folha
amarela entre o meu material.
O sol se põe, e
a ascensão da lua cheia deixa o céu tenebroso, como um filme de terror, só
faltava aqueles lobos uivando ao longe ou os barulhos fantasmagóricos no forro.
Deito-me em
minha cama com cobertas azuis, coloco meus óculos sobre o criado mudo, rezo, e
fecho os olhos com fé que amanhã seja um dia ainda melhor, e também, um pouco
menos estranho!
Boa noite!
Cap.
II – O Grito aos Céus
T
|
erça-feira, dia nublado e atarefado, fui ao
colégio e como a rotina era prevista, voltei são e salvo, sem o Jofrey para me
atormentar. Michelly, na hora do intervalo, me indagou mais uma vez sobre o novo
aludo da minha sala, estava me
acostumando com a ideia de que ela
estava se interessando pelo Vitor. Contei que vou fazer o trabalho de história
com ele e Michelly ficou com brilho nos olhos e sorria, e no final, combinamos
de ajuda-la, marcamos em minha casa, agora, era só falar com minha mãe, pois o
Vitor já confirmara a presença.
E adivinha? Mais
um trabalho! Agora é de artes, fazer algum instrumento por conta própria e
testar em meio à sala toda! Eu nem sei, se irei conseguir me levantar para ir
lá à frente. Com todos aqueles olhares me fitando, me criticando.
Já com Vitor, já
estava falando com ele sem aquele aperto no coração, mas continuava acelerado,
em todas as vezes que eu olhava para ele, naqueles olhos verdes e em seu
sorriso simetricamente perfeito. Incrivelmente, não tinha notado um pequeno
alargador preto em sua orelha esquerda, parecia que minha percepção de detalhes
não funcionava muito bem ao lado dele, até porque, eu estava preocupado com o
que sentia dentro de mim: calores e frios percorrendo o meu corpo, desde os pés
até os fios de cabelo.
O último sinal
soa e me levanto para me retirar, mas sinto uma mão em meu ombro.
– Porque você
não utiliza o ônibus? – questionou Vitor segurando a mochila em suas costas.
– Ah… minha casa
não é tão longe, e prefiro voltar andando, melhor para o corpo. – respondi-o
olhando ao chão e sentindo o calor que ele emanava de suas mãos pálidas.
– Ótimo, também
preciso dar uma caminhada! – ele passa em minha frente olhando sobre os seus
ombros, com o intuito de que o seguisse.
– O que? –
especulei, seguindo-o.
– Isso mesmo que
você ouviu! Vou com você, assim já conheço onde você mora.
– Mas você tem
que voltar para casa, não avisou ninguém!
– Minha casa
fica na mesma direção que a sua, ontem e hoje vim no ônibus, e pelas duas
vezes, vi você andando na rua. Vi aquela hora que o vento soprou coma s folhas.
Apenas notei que uma folha se alojou em seu capuz. – Ele sorri envolvendo-me
com seu braço esquerdo enquanto nós andávamos. – Apenas foi o destino, te
encontrar na mesma sala.
Pisamos na
calçada cinza, viramos para a direita e passamos entre a árvore e o muro
pintado de azul com a faixa horizontal branca, que se estendia até o fim dele.
Atravessamos a rua com passos rápidos.
Percorremos até
a metade do caminho sem nos pronunciarmos. Até que…
– Ahnn… David?
– Sim? –
retruquei olhando ele chutar uma pedra no chão fazendo-a nos acompanhar.
– Falei pouco
com ela, mas eu acho que a Michelly gosta de você!
– Eu sei, somos bons
amigos. – respondi olhando os seus cabelos loiros, esvoaçarem com o leve vento.
– Não, você não
me entendeu! Eu quis dizer, um sentimento além de bons amigos!
Semicerrei os
olhos e as sobrancelhas se contraíram.
– Ahh, nunca
tinha pensado nisso! – quase tropecei, mais uma vez, na calçada elevada.
Ele me segura
pelo braço e consigo o equilíbrio novamente.
– Responda-me:
você já namorou alguma vez? – perguntou ele me olhando do alto.
– N… não! Bem…
acho que, por sua vez, já namorou muitas meninas, certo?
Ele sorriu
olhando para o horizonte.
– Namorar é para
beijar e ser feliz! Se for discutir e brigar, fico em casa com a minha mãe. –
ele me olha com um brilho nos olhos – Sabe… gosto de conversar com você!
Eu desvio o
olhar.
– Ahh… – coço a
cabeça, envergonhado – mas por quê? Sou tão simples!
– Simplicidade!
Essa pode ser a chave. E também, cansei de perder saliva com mentes que não
processavam.
Isso foi um
elogio? Apenas sorri e olhei ao chão.
– A Michelly
gosta mesmo é de você, Vitor! – retrocedi a aquele assunto.
Ele ficou com a
face levemente avermelhada. Vergonha? Acho que sim, pois ele não se atreveu a
me responder, e continuamos a andar até na frente de minha casa.
– Bem, aqui é a
minha casa! – pronunciei.
– Legal, não é
longe da minha!
– Se esqueceu de
que isso é uma cidade pequena?
Ele riu
colocando suas mãos nos bolsos da calça.
– Prometo que
vou me acostumar!
Ele fita dentro
dos meus olhos e eu nos dele. Eu sem mover nenhum músculo, assim como ele.
Aquele silêncio era tenso. Eu não conseguia parar de olhar para ele, não
querendo que ele fosse embora. Droga! O que acontecia comigo?
Levantei as
sobrancelhas.
– Bem… tenho que
ir agora! – falei dando um passo de costas.
– Ah! Claro!
Tenha um bom dia!
Virei de costas
e entrei em minha casa.
Almocei, lavei a
louça, peguei um livro e li algumas paginas até as 01h40min da tarde quando
batem na porta. Era Michelly, tínhamos combinado de ela vir até minha casa para
passarmos à tarde. Assistimos a um filme, jogamos algumas brincadeiras
estratégicas até quase o sol se pôr, onde ela foi embora.
Meus passos eram
rápidos no escuro, mas mesmo assim não me mexia. Atrás de mim, tinha alguma
coisa negra, maléfica. Eu suava e tentava correr ainda mais, contudo não
adiantava. Até que me deparo, em minha frente, um precipício.
Desespero-me,
até que uma luz branca se emana em minhas costas. Viro-me e vejo uma porta
aberta e dela saía uma silhueta de uma pessoa, que esticava sua mão a mim.
– Corra até mim!
– pediu a silhueta.
Fiz o que
mandara, corri o máximo e abracei-a sem ao menos saber quem o que ou quem era.
Tudo fica branco, e olho para cima. Arregalo os olhos e a pessoa me beija.
– Ahh! – sentei
ofegante e suado em minha cama.
Foi apenas um
sonho! Ou um pesadelo? Aquilo não podia acontecer, e porque diabos eu fui
sonhar que estava beijando… uma pessoa?
Sem mais
delongas, levantei, me arrumei, comi um bom café da manhã preparado pela minha
maravilhosa mamãe, escovei os dentes e saí rumo ao colégio.
Quarta-feira.
Está sendo uma semana esquisita. Hoje, será o dia em que Michelly e Vitor iriam
vir em minha casa para fazermos aquele trabalho de história. Cheguei ao
colégio, Michelly e Vitor conversando em um canto do pátio, mas apenas acenei e
entrei nos corredores rumo à sala. Não queria incomodá-los, poderia interromper
alguma conversa mais íntima, ou coisa do gênero.
As primeiras
aulas, antes do intervalo passaram rapidamente, Vitor saiu rápido da sala, e
eu, fiquei resolvendo algumas contas de matemática que o professor tinha
passado outrora.
Depois de
terminado, quando faltavam alguns minutos para começar as últimas aulas, fui
beber um pouco de água e ir ao banheiro. Quando fui tocar meus lábios na água
do bebedouro, vejo Vitor beijando Michelly. Um selinho.
Perdi a sede,
perdi a vontade de ir ao banheiro, perdi o gosto de estudar, perdi as forças,
perdi o chão, mas ganhei, em meu peito, uma dor forte, um anseio gigantesco de
correr dali.
Que merda
acontecera comigo? Parecia que alguém estava apertando meu coração, sentia
falta de ar, porém, olhei ao chão quase sem forças.
– Eu sabia. –
falei a mim mesmo decepcionado.
Mas me
perguntava, com um desejo ardente como um fogo de dragão: Por que eu estava sentindo
aquilo? De fato, eu amava Michelly sem perceber?
Volto à sala
correndo e me sento, apoio minha cabeça sobre meus braços trançados sobre a
carteira e fecho os olhos. Tentando, desesperadamente, decifrar-me, tentar
colocar alguma coisa do que sentia em palavras, mas sem êxito, desisti quando
Vitor entrava na sala, depois de todos.
Nas suas costas,
o professor das últimas aulas. Eu nem prestava atenção no que falavam, para
mim, o tempo parara. O céu escurece, e finos pingos tilintavam na janela. Nem
trouxera guarda-chuva, mas acredito que até no final da aula a fina chuva cessara.
Em minhas
costas, um leve cutuque, era ele, olhei sobre os ombros e Vitor me alcançara um
papel dobrado, peguei e o abri em meu colo.
“Não trouxe guarda-chuva, correto? Eu sabia
que ia chover, então… se quiser voltar comigo para casa, eu te levo, meu
guarda-chuva é grande”.
Vitor.
Não queria que
ele me levasse para lugar nenhum! Agora eu estava com ódio? Respondi:
“Não precisa, gosto de me molhar!”
E entreguei a
ele. Ele consentiu, mas acho que me estranhou. Ao fim da aula, pego minha
mochila mais rápido que todos e saio correndo, rumo a minha casa, ouvia meus
passos na água, e a chuva começara a ficar cada vez mais forte, o cheiro da
terra molhada invadia meus sentidos, apenas fechava os olhos e queria esquecer,
e sem eu perceber, lágrimas começam a escorrer de meus olhos.
Corria o máximo
que podia, nem pensava em meus materiais, dane-se também! Ninguém na rua,
apenas eu. Meus pulmões não aguentavam mais… parei, olhando a chuva no chão.
Ajoelhei-me deixando meus materiais de lado. Uma agonia que não mais suportava.
– TIRA ISSO DE
MIM! – gritei com o máximo de força que consegui com minha face em direção ao
céu. – Eu te imploro! – agora, sussurrei.
Um raio se
alastra ao céu, depois o trovão ecoa. Coloquei minha face em minhas mãos em
forma de concha e não tinha como me segurar, chorei; sim… chorei muito.
Joguei, sem
pensar, meus óculos na grama ao lado direito. Via agora, uma mancha vermelha em
minhas mãos, me assustei, levando-as para longe da minha face.
– Sangue! –
sussurrei. – Melhor morrer do que sentir isso.
Ainda de joelhos
na calçada, apoio-me com as mãos e sem forças apenas esperava que alguma coisa
acontecesse. Algum milagre, ou um raio me atingisse. Ouço passos apressados,
mas os ignoro completamente. O concreto estava vermelho, sangue saía do meu
nariz, em vasta quantidade. Sinto um envolver em meus braços que me levantou
com força.
– DAVID! –
gritou quem eu menos queria que estivesse ali. – está louco? Poderia ter sido
atropelado!
Já não sentia
mais a chuva no meu corpo, apenas ela escorrendo, estava de baixo de um
guarda-chuva.
– Me deixa
Vitor! – tentei tirar o meu braço de sua posse, mas não consegui.
– O que
aconteceu? Responda-me!
Ele puxa meu
braço para perto dele e eu, por instinto, o abraço chorando ainda mais com toda
a minha força. Ele me envolvia com um braço e beijava-me minha cabeça com
intuito de me tranquilizar.
– Escute-me: Vai
ficar tudo bem, mas me diga o que aconteceu?
– E… eu te… te
vi com Michelly! – sussurrei aos soluços.
Ele joga o
guarda-chuva na grama, e me envolvem fortemente com seus dois braços.
– A verdade é que chegamos ao mundo, sozinhos, e
saímos exatamente do mesmo modo. – Vitor pronuncia lentamente com um tom
triste em sua voz. – Vamos garoto, vou te levar para casa.
Depois de alguns
minutos me abraçando, pegou seu guarda-chuva e meus óculos, quando o coloquei,
reparei sua camisa toda suja de sangue, assim como a minha. Pegou em minha mão,
depois de colocar minha mochila em um de seus ombros. Andávamos rápidos, e
Vitor, estava pensativo.
– O que você
sente por mim? – perguntou ele engolindo seco, sem olhar para mim, apenas a sua
frente.
Eu, de olhar
baixo vendo o meu sangue misturado com agua cair no solo, não consigo
respondê-lo, pois nem mesmo eu sabia o que sentia.
– Não sei. – depois
de minutos, respondi baixinho com meus cabelos a escorrer colados na testa.
Segurando ainda
a minha mão, ele a aperta em resposta. Não forte ao ponto de doer, mas para me
mostrar outra coisa. Coisa que não decifrei.
Em frente a
minha casa, ele se despede dando um beijo em minha testa.
– Vá, seu nariz
ainda está saindo sangue.
Entregou-me meus
pertences e me leva até a porta, passando pelo jardim. Ao entrar na residência,
minha mãe me espera.
– Meu filho! O
que aconteceu? – abraça-me – você demorou e o que é esse sangue? Alguém te
bateu?
Eu apenas sorri.
Ainda sentia o calor do beijo de Vitor em minha testa. O tapete começava a
ficar molhado e meu gato cinza de olhos muito amarelos, a ronronar fitando-me.
O cheiro da refeição pairava e minha barriga roncava. Sorri novamente, fui ao
banheiro rapidamente me trocar de roupa e me lavar para tirar todo o sangue em
minhas vestes. Secava meu cabelo quando o Felix – nome do meu gatinho – se
esfregava em meus pés.
Minha mãe me
especulou, mas não consegui falar, mas realmente, gostaria de tentar, para ver
se aquilo saída do meu peito. Ainda estava lá, mas amenizou por algumas horas
depois daquele berro que dei à chuva. Comida deliciosa que mamãe fizera,
recuperei minhas energias e meu psicológico, mas ainda assim, sentia um
resquício de dor.
A tarde passa,
juntamente com a chuva, no céu, apenas o arco-íris que nos fitavam, pássaros
brancos sobrevoavam aos céus, e tudo estava calmo.
Michelly me
liga, me informando que não poderia ir a tarde a minha casa, estaria ocupada
com outras tarefas que sua mãe as dera. Esperava, com receio, a vinda de Vitor.
Ele não apareceu.
Sentia-me aliviado, mas ao mesmo tempo, decepcionado. Será que ele nunca mais
falaria comigo depois de hoje?
Cap.
III – O Sétimo Decai
E
|
u
estava lá fora sentado na grama abraçando minhas pernas, agora, as nuvens se
dissiparam, e o sol já se pôs, as estrelas estavam cintilando, não as via com
total poder, pelo fato das luzes da cidade, mas pelo menos, observava as belas
estrelas
cadentes que rasgavam ao céu com rapidez.
– David! –
chamou minha mãe – venha para dentro, já está noite, tens que dormir!
Obedeci: escovei
os dentes e fui para a cama. Meu gato pula em cima da minha cama e começa a
ronronar, eu, me sentindo um pouco mais péssimo agora, envolvo-o com meu
cobertor e trago-o para perto de mim. Durmo assim: com o calor do meu animal de
estimação.
Sem pesadelos
esta noite, amanhece e o tempo voa.
Quinta-feira.
Amanhã, a apresentação do trabalho com Vitor, mas, nem ao menos abrimos o livro
de história. Nem ao menos ele veio em aqui em casa, assim como Michelly.
Entro na sala de
aula, me sento, e depois de poucos minutos Vitor senta na carteira atrás de
minhas costas, sem me olhar, ou me cumprimentar. Eu também, não tinha coragem
de olha-lo.
É, seria aquilo
de agora em diante: apenas seremos estranhos.
Na hora do intervalo
converso com Michelly, e combinamos de hoje, sem falta, fazermos o trabalho em
minha casa. Era agonizante o fato de estar sentado na frente de alguém que te
salvou de um colapso psicológico. Com Michelly, tinha um pouco de receio em
falar livremente com ela, mas isso com o tempo sessa.
Voltei para casa,
sozinho e ao abrir a porta principal, suspiro aliviado.
Almoço com mamãe
enquanto conversávamos e riamos sobre fatos inusitados e engraçados que contara
a ela. Estava melhorando, apenas doía quando encarava Vitor.
A tarde chega
rapidamente, e na porta, alguém bate. Vou abrir prevendo a chegada de Michelly.
– Olá David! –
cumprimenta ela.
– Oi Michelly,
entre!
Vejo um vulto
atrás dela e paraliso. Uns segundos se passam e ela me fitava.
– O que foi David?
– perguntou Vitor a sorrir atrás da menina.
A dor se
alastrou em meu peito. Para entrar em casa deveria subir dois degraus, então o
corpo de Vitor se escondera atrás do de Michelly. Mas o que ele fazia aqui?
Como tinha coragem de vir até mim? E parecia, para ele pelo menos, que nada
acontecera. Eles entraram e os acomodei em meu quarto.
Se comparado a
ontem, hoje estava calor. Vitor tira seu casaco branco de capuz e o coloca
envolvido em minha cadeira da escrivaninha. E Michelly, eu achava-a friorenta.
Existem dias
bons, dias ruins e os dias em que eu apenas espero ele acabar. Esse era um dia
que o esperava acabar, o mais rápido possível. Só queria a paz de um rizo sem
razão. Mas no fim, eu tinha sorte, pois sabia que a dor que machuca é a mesma
que ensina.
– Vamos começar agora?
– sugeriu minha amiga sentando na cama.
Anui e peguei o
livro de capa vermelha sobre a escrivaninha.
– Aqui, peguei o
último livro da biblioteca, e adivinha?
– Sétimo
exemplar? – provisionou Michelly a sorrir.
Balancei a
cabeça.
– Eu o peguei se
lembra? – pergunta Vitor me desconcentrando para achar a pagina. – Você não
alcançou.
Não mexi um
músculo da minha face e continuei a folhear.
– Achei! – sorri
mostrando para Michelly o conteúdo do livro na página certa.
– Feudalismo! – anuiu ela.
– David! –
chamou mamãe entrando no meu quarto. – Oi jovens, só vim avisar que estarei na
vizinha e se sentirem fome tem uma sobremesa de morango na geladeira.
– Tudo bem, mãe.
– Eu volto logo
– se despediu ela fechando a porta principal.
– Então… vamos
começar? – sugestionei.
Fomos até a mesa
da cozinha levando todos os materiais
Papeis, canetas
e escritas não tão legíveis nos rascunhos amassados; e finalmente: ambos os
trabalhos prontos.
Passava a mão na
testa pensando que consegui ignorar Vitor uma boa parte, mas nada iria mudar o
fato dele se apresentar ao meu lado amanhã. Se eu pudesse escolher, pediria
nunca mais ver ele, não pelo fato de vê-lo beijando outro alguém, mas sim pelo
que sinto, nunca tivera sentido isso antes, por ninguém. Apenas não queria sentir,
nunca mais, isso dentro do meu peito. Mas também tinha aquela vontade de contar
o que sentia ao Vitor, mas eu não conseguia colocar em palavras o que sentia;
como poderia contar a ele?
– Ufa…
terminamos! – exclamei me levantando para pegar um copo d’água.
Ambos na mesa
conversavam e eu, abri a geladeira com um olhar calculista, afiado tentando
achar a sobremesa de morango. Achei! Era um bolo com uma cobertura maravilhosa
que mamãe fizera.
– Depois de um
trabalho duro, que tal a recompensa? – alvitrei colocando o bolo sobre a mesa
da cozinha.
Peguei três
recipientes de vidro colorido e três colheres.
– Servidos?
Sorriram e se
levantaram. Michelly sabia o quanto mamãe fazia tudo gostoso e não recusou.
– Que delicioso!
– elogiou Vitor já sentado a mesa novamente.
Comemos e
colocamos os talheres e recipientes sujos na pia. Despediram-se e eu, consegui
sorrir à Vitor e a Michelly, se foi verdadeiro eu não sei. Abri a porta para
eles e já ao longe, acenaram; eu os retribuí. Fechei a porta, girei os calcanhares
e apoiei minhas costas na porta fechando os olhos com força. Respirei e pensei:
“agora vai ficar tudo bem. Vou lavar a louça e tirar os materiais de cima da
mesa”.
Como tinha
mentalizado, lavei a pouca louça do bolo; peguei todos os cadernos, canetas e o
sétimo exemplar e levei ao meu quarto. Quando dei o primeiro passo no me cômodo
eu paro. Via aquele casaco branco envolvido em minha cadeira. Era a do Vitor?
Coloquei o material sobre a escrivaninha e suavemente, com resquício, passei a
mão no tecido do casaco. Senti a textura macia do algodão. Peguei-o e envolvi
com meus braços, levando parte do casado ao meu nariz. Fechei os olhos e decaí
sentado na minha cama. “Deus, que cheiro bom” – pensei depois de um minuto
ainda daquele modo.
Ouço, vindo da
porta entreaberta do meu quarto, um pigarrear. Olho assustado e vejo os olhos
serenos de Vitor a me fitar. Escondo o casaco dele em minhas costas, mas
adiantaria? Quanto tempo ele estava ali me observando?
Levantei-me sem
jeito e ele abriu mais a porta.
– Bem… vim
buscar o meu casaco que esqueci.
Sentia minha
cara pegar fogo, mas com muita coragem e sem dizer nada, estendi o pertence
dele.
Olhava ao fundo
dos olhos dele, e ele, aos meus. Vitor pega seu casaco suavemente e lentamente
sem parar de me fitar com o brilho nos olhos.
– De… desculpa!
– me redimi ao saber que ele me observara.
Vitor apenas
sorri.
– Senta na cama.
– pediu ele se movendo.
Íamos conversar,
será que eu estava pronto e ele iria fazer aquela pergunta novamente? A que eu
não sabia responder… mas eu queria a resposta mais do que ele: O que eu
sentira?
Sentei como
pedido e me apoiei colocando ambos os braços para trás e me inclinei um pouco,
já Vitor, colocou suas mãos entre as pernas.
– Aquilo que
aconteceu ontem – Vitor fez uma pausa por vários segundos olhando ao chão – foi
estranho.
Eu consenti com
a cabeça, o que poderia dizer? Só escutava o bater rápido do meu coração, o
calor percorrendo o meu corpo e depois o frio. Só com a presença dele já me
sentia estranho, imagine assim… tão perto de mim?
– Andei
pensando…
Ele não
prosseguia com a fala. Vamos!! Não era pelo fato que eu não conseguia dizer
nada por causa do nó em minha garganta que ele iria tremer também. Queria que
ele fosse embora rápido e não me encontrasse mais! Ou era apenas um sentimento
que eu criei para esconder a dor que sentia ao estar ao lado dele?
Ele se inclina
ficando na mesma posição que a minha, tirando o fato de que ele colocara
levemente uma de suas mãos sobre a minha pequena. Nós trocávamos os olhares, eu
sentia o coração dele batendo, a respiração, a adrenalina no meu corpo e no
dele. O tempo parara completamente para ambos. Sentia as minhas lágrimas
gritando para transbordarem, saírem da prisão do meu peito apertado, do meu
sangue nas veias que velejavam na velocidade da luz. De todo o meu mundo
mental.
Cada vez mais
ele se aproximava de mim, seu rosto cada vez mais próximo, sua respiração
paralisada e seus olhos brilhantes não paravam de me admirar. Cada milímetro a
menos, os nossos lábios se preparavam, para sentir o mais doce das emoções, a
explosão de adrenalina, o tocar gentil de dois corpos. Iria me sentir nas
nuvens? Flutuando no universo?
Vejo os lábios
de Vitor falando e tento escutar com esforço, ele sussurrava o mais baixo
possível as seguintes palavras:
– Desde quando
eu te vi, naquela hora do vento, eu tinha me apaixonado por ti. Eu te amo.
Faltavam poucos
segundos, e muito lentamente, eu me aproximava dele. Sentia a mão de Vitor como
se fosse um fogo ardente que não me queimava, meu corpo estava como se fosse um
iceberg em meio a um oceano gigantesco… e o oceano… era Vitor. Sentia
borboletas em meu estômago, arrepios em minha coluna e a primeira lágrima a
escorrer.
Chorei ao ouvir
aquilo, a lágrima apenas escorreu lentamente em minha face corada.
– David! – mamãe
abre a porta principal me chamando – voltei filho!
Levanto-me atrapalhado
enxugando as lagrimas e saio do quarto.
– Oi mamãe.
Vitor também se
retira do quarto e olha para mim, chega perto dos meus ouvidos e sussurra:
– Adeus, vou te
proteger, sempre.
Fiquei
estarrecido, mas anui com a cabeça.
– Vou ir Senhora
Gaspar! – se despediu com o casaco branco nas mãos.
– O.K. – sorriu
ela – volte quando quiser, é bem vindo.
Trocamos olhares
pela última vez, apenas por poucos segundos, mas já era o suficiente para toda
aquela dor voltar, ainda mais forte.
Respiro
finalmente com alívio, mas no fundo, queria ao máximo que aquilo acontecesse,
pois meu corpo não mente, ele se aproximava com desejo de beijá-lo. Na minha
mente, o que acontecera hoje a tarde, não saia da minha mente. A noite chega e
eu não consigo dormir bem, me viro na cama para todos os lados pensando e
lacrimejando. Sentia a falta dele.
De repente, uma
dor em meu peito, sem comparação com a outra, me atingiu abruptamente. Era uma
dor diferente, que aos berros comecei a chorar, olhei ao relógio eletrônico
sobre o meu criado mudo e marcava 00h07min (meia noite e sete). Mamãe acorda
desesperada e vem ao meu quarto.
– O que
aconteceu meu filho? – perguntava ela desesperada e sem saber o que fazer
apenas me acolheu em seus braços e me apertava.
Pedia
incessantemente para aquilo parar, não conhecia aquela dor, eu gritava, meu
peito doía e eu não sabia o que fazer.
– Deite aqui,
vou ligar para o médico!
Mamãe colocou-me
na cama e correu ao telefone. Eu sentia uma coisa me tocar no peito e minha
visão ficava escura, isso durou cerca de dez minutos, depois disso ia se
dissipando. Parei de chorar aos berros e apenas lacrimejava.
– Melhorou
filho? – perguntou mamãe chorando ao meu lado.
Anui. Já estava
passando. Mamãe me levou dormir com ela o resto da noite, mas mesmo assim quase
não preguei o olho.
De manhã,
acordei e fui esquentar a água para o café daquele dia. Eu estava estranho e me
perguntava: O que tinha acontecido naquela noite? Um turbilhão de alguma coisa
me atingiu e não sabia explicar.
Fiz a rotina e
hoje era a tão temida Sexta-feira, pelo menos para mim. Teria que apresentar,
com Vitor, o trabalho para toda a sala. Qual seria a minha reação ou a dele em
nos fitarmos? Eu gostaria de dar um abraço muito forte nele, sem nenhuma
explicação.
Entrei na sala e
fiquei esperando ansioso por ele. O sinal soa e ele não aparece. A professora
Clara entra na classe e começa a aula. Ficava fitando a entrada desejando que
ele aparecesse. O primeiro trio estava se apresentando e o próximo seria eu e
Vitor, mas nada dele aparecer até então.
– Agora, o trio
que vai abordar o tema Feudalismo! – anunciou a professora.
Abaixei o olhar,
peguei o livro que era o sétimo exemplar e me pus, tremendo, em frente à sala
toda.
– Pode começar!
– pediu Clara me fitando a sorrir.
Não saía uma
palavra de minha boca, eu estava mudo, se Vitor estivesse ao meu lado eu
conseguiria, teria em quem me assegurar, mas ele não estava lá.
De repente, em
meu ombro direito, sinto algo quente, como se fosse um toque, achei estranho de
início, mas me acostumei em poucos segundos. Sem ao menos eu perceber levanto o
olhar e fito toda a sala, engulo seco e depois pigarreio. Abro o sétimo
exemplar na parte do feudalismo e começo a falar livremente, me surpreendi,
nunca falara tão bem, claro e com o tom de certeza e confiança na minha vida.
Concluo a
apresentação, sozinho, e todos se levantam para aplaudirem de pé.
– Maravilhoso
David, você se superou, nos surpreendeu. – elogiou a professora.
Contudo, uma
mulher para na porta ofegante e chama a professora. Ela se perguntando o que
acontecera vai até a mulher.
Eu ainda estava
na frente da sala e todos fitavam a porta. Víamos a professora com um olhar
triste, seus ombros decaem e ela se volta para a sala depois de ficar em frente
a ela e ao meu lado.
– Turma! Temo
trazer uma notícia a vocês!
Franzi o cenho.
– Vitor,
infelizmente morreu esta noite ás meia-noite e sete. Por causa de uma doença
que ele carregava desde sua infância.
Deixei o livro
que estava em minhas mãos a mercê do chão. O sétimo decai.
Saí da sala
correndo, rumo a qualquer lugar. Nada tinha mais a mesma cor, eu estava fraco,
sem forças alguma, além de não parar de chorar, fechei os olhos e corria o
máximo que meu corpo aguentava. Parei ofegante frente à praça que eu
frequentava de vez em quando e corri para baixo de uma árvore de folhas
amarelas de frente ao lago cristalino. Sentei e me encostei ao tronco da
árvore, fiz minhas pernas chegarem perto do meu peito e as envolvi com meus
braços. Não conseguia parar de chorar, queria que Vitor estivesse ali para
pegar em meu braço novamente, para passar a mão em meus cabelos, pegar os
livros das estantes altas, me levar para casa com um guarda-chuva, rir com ele,
o ver tirando de meu capuz mais folhas amareladas, sentir o seu calor em minhas
mãos, ver novamente o brilho verde em seus olhos, escuta-lo pronunciar suas
frases que eu amava escutar. Não parava de me culpar. Eu fizera isso? Desejei
com minhas forças não ver ele nunca mais, e isso se concretizou. Desejava
agora, com mais força do que antes, abraça-lo, tocar na face pálida dele, nos
cabelos loiros e macios e sentir o seu cheiro no casaco branco.
Fiquei ali,
sentado, por horas, e certamente, já estariam me procurando, pois não voltara
para casa almoçar. A noite cai e eu com sede, fome e ainda a chorar. O reflexo
da lua no lago cristalino me hipnotizava.
Levanto-me com
meu coração quase pulando pela boca, e dando passos lentos, me aproximo da água
sem movimento e com folhas amarelas a boiar, no barranco, me inclino e caio na
água. “Quero morrer! Tire-me essa dor do meu peito que não consigo decifrar”!
Fecho os olhos e caio lentamente para o fundo do lago. Sentia uma vontade
gigantesca de obter oxigênio, mas a ignorava com raiva de mim.
A água estava
escura e gelada, mas sinto uma presença dentro da água. “Um peixe” – pensei.
Abro os olhos e
com a visão já turva vejo uma luz ao longe, uma silhueta brilhante que me lembrava
de meu sonho.
“David” – ouvi
em minha cabeça me chamarem, era a voz de Vitor. Comecei a perceber que aquela
luz se aproximava e ao meu espanto era a face de Vitor.
“Não morra, eu
disse que vou te proteger”.
Eu sentia que
chorava ainda debaixo da água. Minha visão ficava escura a cada segundo amais
sem oxigênio.
“Quero que você
viva e triunfe na sua vida, meu amor” – ouvia em minha mente. A silhueta de luz
se aproximava, a ponto de tocar com uma de suas mãos meu queixo.
“Sempre vou te
proteger esteja onde estiver, quero ver você sorrindo, e quando você completar
a sua missão aqui, estarei lhe esperando para me abraçar deste lado”.
Minha visão se
escurece, mas ouço o movimento da água em minha cabeça.
“Agora vá, e
viva! Eu te amo!”
Sorrio e sinto a
vida se esvair de meu corpo como as bolhas de ar que saiam de meu nariz.
De repente,
sinto uma força pegar em meu braço e me puxar. Saio para a superfície e respiro
alto, enchendo meus pulmões de oxigênio.
– VOCÊ ESTÁ
LOUCO? – gritou Michelly a colocar-me na grama ao lado da árvore.
Eu tossia e
respirava quase sem forças, mas mesmo assim consegui sussurrar algumas
palavras:
– A verdade é que chegamos ao mundo,
sozinhos, e saímos exatamente do mesmo modo. – depois disso fechei os olhos
e só lembro-me de já estar dentro da ambulância.
Os médicos chegam
me colocam dentro da ambulância e me levam ao hospital, no balançar do
automóvel, relembrava todos os momentos que passara com Vitor e me agarrava com
todas as minhas forças o que o espírito dele me dissera na água. Poderia ser
uma ilusão pela falta de oxigênio no cérebro, mas eu não queria acreditar
nisso. Em uma semana, Vitor mudara a minha vida. E nesse exato momento decifrei
qual era o sentimento que sentia desde a primeira vez que eu o vi: Eu o amava e
ele sabia disso.
Obrigado
por ter lido!
Muito boa tua história, você escreve super bem.
ResponderExcluirEu chorei lendo, mas muito bom mesmo.
Valeu Azami, eu e emociono quando releio ela ainda ^^
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